segunda-feira, 15 de julho de 2013

Texto: TORPEDOS - Moacyr Scliar




TORPEDOS - Moacyr Scliar

Apesar do fracasso dos quatro vestibulandos que haviam tentado fraudar a prova mediante mensagens pelo celular, ela decidiu fazer a mesma coisa. Em primeiro lugar, porque morava numa cidade muito menor que o Rio, na qual as medidas de segurança não eram tão rigorosas. Depois, não recorreria a quadrilha nenhuma, coisa que, segundo imaginava, tornava a operação vulnerável. Em terceiro lugar, não tinha outra opção: não sabia quase nada, e era certo que seria reprovada. Por último, havia uma coincidência favorável: estava com o antebraço esquerdo engessado. Nada preocupante, e na verdade ela até poderia ter tirado o gesso, mas não o fizera e agora contava com um ótimo esconderijo para o celular. Quem mandaria o gabarito? O namorado, claro. Rapaz inteligente (já estava cursando a faculdade), ele só teria de perguntar as questões para alguém que tivesse terminado a prova e enviar o gabarito por torpedo. Quando ela fez a proposta ao rapaz, ele pareceu-lhe um tanto relutante, incomodado mesmo. E no dia do vestibular ela descobriu por quê. Quarenta minutos depois de iniciada a prova, ela recebeu o tão esperado torpedo. Para sua surpresa, não continha o gabarito, e sim uma mensagem: "Sinto muito, mas não posso continuar namorando uma pessoa tão desonesta. Considere terminada a nossa relação.

PS: boa sorte no vestibular". Com o que ela foi obrigada a concluir: tão importante quanto o torpedo é aquele que dispara o torpedo.

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