quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ASPECTOS SEMÂNTICOS



Na aula passada, vimos que a semântica compreende o estudo da significação das palavras de uma língua. Hoje, vamos estudar diferentes aspectos relacionados a esse assunto.

Mas, antes, precisamos entender que estudar semântica requer alguns cuidados. Observem a tirinha a seguir:
(Quino)
Reparem que, no último quadrinho, são utilizadas palavras que estabelecem entre si uma relação de contrariedade: “operários POBRES” opõem-se em sentido a “operários LOIROS, LINDOS E COM CARRO”. Fora desse contexto, o vocábulo “pobre” não seria contrário a “loiros, lindos e com carro”, por exemplo, mas, na tira, essa relação é estabelecida com um propósito crítico.

O que quero dizer é que só podemos analisar os aspectos semânticos das palavras quando consideramos um contexto para isso.


ASPECTOS SEMÂNTICOS

  • Sinonímia

Sinônimos são vocábulos que, num determinado contexto, possuem ou assumem sentidos semelhantes.

Exemplo:

A segurança pública mostra-se ineficiente nas grandes cidades. A sociedade presencia uma realidade em que são cada vez mais frequentes os casos de violência. Esse cenário requer maior atenção do Governo na tentativa de buscar melhorias na qualidade de vida da população.

Reparem que os vocábulos “sociedade” e “população” são sinônimos.

  • Antonímia

Antônimos são termos que, num determinado contexto, assumem significados opostos.

Vejam a citação a seguir:

“O fracasso quebra as almas pequenas e engrandece as grandes, assim como o vento apaga a vela e atiça o fogo da floresta”. (Benjamim Franklin)

Os pares vocabulares: “pequenas e grandes” e “apaga e atiça” são exemplos de antônimos.

  • Homonímia

Homônimos são vocábulos que têm a mesma pronúncia e/ou a mesma grafia, porém com significados diferentes.

Classificam-se em:

a) Homônimos homófonos: possuem a mesma pronúncia, mas a grafia diferente.

Exemplo:

A palavra comércio possui acento.

Não havia assento no ônibus. 

b) Homônimos homógrafos: possuem a mesma grafia, porém a pronúncia é diferente.

Exemplo:

A comida tinha um gosto amargo.

Eu gosto muito de você.

c) Homônimos perfeitos: possuem a mesma grafia e a mesma pronúncia. Só é possível perceber a diferença de sentido através de um contexto.


Exemplo:

Eu rio à toa.

O rio transbordou.

  • Paronímia

Parônimos são vocábulos parecidos na pronúncia e na grafia e com sentidos diferentes.

Exemplo:

O tráfico de drogas deve ser combatido.

O tráfego era intenso na Avenida Brasil.


SE LIGA!

Tanto os homônimos quanto os parônimos têm sentidos diferentes. Não confundam: para um vocábulo ser homônimo de outro, precisa ter algo idêntico – a pronúncia (=som) e/ou a escrita. Os parônimos não são iguais em nada, apenas, parecidos.

  • Hiponímia e Hiperonímia

Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem a um mesmo campo semântico. O hipônimo tem o sentido mais específico e o hiperônimo, o mais abrangente, amplo.

Analisemos os exemplos a seguir:

I) Para criar animais em casa, é preciso dedicação. Conheço uma menina que possui dois cachorros, um gato, três passarinhos e um papagaio.

Notem que os vocábulos destacados são mais específicos em relação ao termo “animais”. São considerados hipônimos.

II) Maldade e ódio são sentimentos que devem ser evitados.

Reparem que o termo em destaque abrange maldade” e “ódio”, logo, trata-se de um hiperônimo.


DICA DE REDAÇÃO!

Como estudamos em nossa aula de coesão lexical, saber usar o vocabulário é fundamental para evitar repetições vocabulares na redação Nem sempre existem sinônimos para o que queremos. Saber lidar com os hipônimos e com os hiperônimos é uma boa dica.

INTRODUÇÃO À SEMÂNTICA



Para introduzirmos o assunto de hoje, resolvi começar este post de um jeito diferente... Afinal, um pouquinho de poesia não faz mal a ninguém:

POESIA CLARA
(Gustavo Haddad)

Eu quero uma poesia clara
Que me diga sim ou não
Sem semântica sem nada
Que revele uma direção

Para o mais comum dos homens, para mim
Que grite alto o nosso nome

Se eu não compreendo, eu não vou responder
Rasgue a fantasia, deixe eu ver você
Mundano ou espiritualista
(Romântico ou naturalista)
Não perca seu ponto de vista, não...

Eu quero uma posição sincera
Que erre ou acerte com exatidão
Sem rodeios, sem promessas
Que aponte uma direção
A poesia acima aborda o tema da nossa aula de hoje: SEMÂNTICA.  No texto, o eu lírico afirma, na primeira estrofe, que a clareza da poesia só é possível “sem semântica sem nada”. Segundo ele, a direção só é revelada a partir do momento em que não existe a semântica. Como poderíamos explicar tal ponto de vista?
Primeiramente, devemos compreender que a semântica é o estudo dos significados dos vocábulos da língua. Além disso, devemos partir do princípio de que os sentidos das palavras são amplos, pois dependem do contexto ou até mesmo da intenção de quem emite uma mensagem.
Dessa forma, podemos captar que essa “direção” mencionada no quarto verso da primeira estrofe diz respeito à significação mais restrita, exata. A semântica corresponde exatamente a essa ampliação de entendimentos, o que, para o eu – lírico, acaba com a clareza.

No nosso dia a dia, entretanto, essa diversidade de significado é fundamental. Na interpretação textual, por exemplo, lidamos o tempo todo com essa multiplicidade de sentidos.
Observem a charge a seguir: "Seu... Seu... Seu político!"


Vejam que o vocábulo “político”, no contexto acima, tem uma carga negativa de significação; equivale a um “xingamento”. A expressão dos personagens associada à visão que, muitas vezes, temos desses “representantes do povo” confirmam esse valor semântico.

CONCEITOS IMPORTANTES:
  • Campo semântico
É um campo de sentido, formado por palavras que pertencem a uma mesma esfera de significação.
Tomemos por exemplo os seguintes vocábulos: escola, colégio, alunos, professores, salas de aula, educação.
Podemos dizer que as palavras acima pertencem a um mesmo campo semântico.
  • Polissemia
É a propriedade que alguns vocábulos possuem de assumir vários significados dependendo do contexto em que estejam inseridos.
Observem, a seguir, os diferentes significados gerados a partir da expressão “cão de guarda
"- Seu cachorro é de que tipo?
- É um cão de guarda.
- Como ele pode ser "um cão de guarda", se você não é guarda?" (Hagar)

SE LIGA!
        Essa multiplicidade de sentidos é justificada pelos valores denotativos e conotativos das palavras.
Denotação: equivale ao significado real, literal da palavra.
Conotação: sentido figurado.

Exemplos:
Meu coração pulsava forte. (sentido denotativo)
A Amazônia é o coração do Brasil. (sentido conotativo
Bem, galera, hoje, vimos os conceitos básicos sobre semântica. No próximo post, vamos estudar e aprofundar novos aspectos relacionados a esse importante assunto. Fiquem ligados!

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O QUINHENTISMO BRASILEIRO



Índice
No século XVI, a maioria das obras escritas, no Brasil, não foram feitas por brasileiros, mas sobre o Brasil por visitantes, chamada Literatura de Informação ou de Viagem. A esta literatura soma-se outra chamada Literatura Jesuítica, relato das incursões religiosas para catequização dos índios.
O Quinhentismo divide-se em:
  • Lit. Informativa - conquista material para o governo português
  • Lit. Jesuítica - conquista espiritual, num movimento resultante da Contra-Reforma
Referências históricas
  • capitalismo mercantil e grandes navegações
  • auge do Renascimento
  • ruptura na Igreja (Reforma, Contra-Reforma e Inquisição)
  • colonização no Brasil a partir de 1530
  • literatura jesuítica a partir de 1549
Literatura de Informação, de Viagem
ou dos Cronistas
Destinava-se a informar os interessados sobre a "terra nova", sua flora, sua fauna, sua gente. A intenção dos viajantes não era fazer literatura, mas sim uma caracterização da terra. Através dessa literatura se tem idéia do assombro europeu diante de um mundo tropical, totalmente diferente e exótico.
Além da descrição, os textos revelam as idéias dos portugueses em relação à nova terra e seus habitantes.
Características
  • textos descritivos em linguagem simples
  • muitos substantivos seguidos de adjetivos
  • uso exagerado de adjetivos empregados, quase sempre, no superlativo
Autores
Pero Vaz Caminha
Autor da "certidão de nascimento" do Brasil, onde relatava ao rei de Portugal a "descoberta" da Terra de Vera Cruz (1500)
Pero Lopes de Souza
Diário da navegação da armada que foi à terra do Brasil em 1500 (1530)
Pero Magalhães Gândavo
Tratado da terra do Brasil e A história da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil (1576)
Gabriel Soares de Sousa
Tratado descritivo do Brasil (1587)
Ambrósio Fernandes Brandão
Diálogo das grandezas do Brasil (1618)
Frei Vicente do Salvador
História do Brasil (1627)
Pe. Manuel da Nóbrega
Diálogo sobre a conversão dos gentios (1558)
Pe. José de Anchieta
Obra vasta a ser tratada com mais detalhes a seguir
Literatura Jesuítica
Junto às expedições de reconhecimento e colonização, vinham ao Brasil os jesuítas, preocupados em expandir a fé católica e catequizar os índios. Eles escreveram principalmente a outros missionários sobre os costumes indígenas, sua língua, as dificuldades de catequese etc.
Esta literatura compõe-se de poesias de devoção, teatro de caráter pedagógico e religioso, baseado em textos bíblicos e cartas que informavam o andamento dos trabalhos na Colônia.
Autores
José de Anchieta
Papel de destaque na fundação de São Paulo e na catequese dos índios. Iniciou o teatro no Brasil e foi pesquisador do folclore e da língua indígena.
Produção diversificada, sendo autor de poesias líricas e épicas, teatro, cartas, sermões e uma gramática do tupi-guarani.
De sua obra destacam-se: Do Santíssimo Sacramento, A Santa Inês (poesias) e Na festa de São Lourenço, Auto da Pregação Universal (autos).
Usava em seus textos uma linguagem simples, revelando acentuadas características de tradição medieval portuguesa.
Suas poesias estão impregnadas de idéias religiosas e conceitos morais e pedagógicos. As peças de teatro lembram a tradição medieval de Gil Vicente e foram feitas para tornar vivos os valores e ideais cristãos. Nas peças, ele está sempre preocupado em caracterizar os extremos como Bem e Mal, Anjo e Diabo, característica pré-barroca.
Obras
A carta de Caminha faz um relato dos dias passados na Terra de Vera Cruz (nome antigo do Brasil) em Porto Seguro, da primeira missa, dos índios que subiram a bordo das naus, dos costumes destes e da aparência deles (com uma certa obsessão por suas "vergonhas"), assim como fala do potencial da terra, tanto para a mineração (relata que não se achou ouro ou prata, mas que os nativos indicam sua existência), exploração biológica (a fauna e a flora) e humana, já que fala sempre em "salvar" os nativos, convertendo-os.

"Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!"


--Carta de Caminha




"Viu um deles [índios] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isso tomávamos nós por assim o desejarmos"


--Carta de Caminha


"Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm nem entendem em nenhuma crença"


--Carta de Caminha


"Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar"


--Carta de Caminha
A História da Província Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil é o relato do viajante Pero de Magalhães Gândavo em sua viagem pelo Brasil. Tal qual no Tratado da Terra do Brasil, Gândavo descreve a terra, flora e a fauna. História, propriamente dita, há pouca em seu relato. Existe a narrativa do descobrimento e menções a vários ocorridos, como a expulsão dos franceses de São Sebastião (cidade do Rio de Janeiro hoje em dia) e a morte do filho de Mem de Sá, assim como fala-se dos costumes e das guerras de povos indígenas. É nesta parte que se destaca o forte preconceito do autor, que sustenta que os índios são maus e que os Portugueses deveriam salvá-los…

"Não acho que preciso, mas vou lembrar a todos que os portugueses e espanhóis quando vieram para ca cometeram tantas e tão horríveis atrocidades motivados por ganância cega que a antropofagia dos nativos parece tão horrível quanto esmagar uma formiga."


--História da Província Santa Cruz, Pero de Magalhães Gândavo






"Esta planta é mui tenra e não muito alta, não tem ramos senão umas fôlhas que serão seis ou sete palmos de comprido. A fruita se chama banana. Parecem-se na feição com pepinos e criam-se em cachos. (...) Esta fruta é mui saborosa, e das boas, que há na terra: tem uma pele como de figo (ainda que mais dura) a qual lhe lançam fora quando a querem comer: mas faz dano à saúde e causa fevre a quem se demanda dela"


--História da Província Santa Cruz, Pero de Magalhães Gândavo



"Teme a Deus, juiz tremendo,
que em má hora te socorra,
em Jesus tão só vivendo,
pois deu sua vida morrendo
para que tua morte morra."


--Auto de São Lourenço, Pe José de Anchieta


Não há cousa segura.
Tudo quanto se vê
se vai passando.
A vida não tem dura.
O bem se vai gastando.
Toda criatura
passa voando.

Em Deus, meu criador,
está todo meu bem
e esperança
meu gosto e meu amor
e bem-aventurança.
Quem serve a tal Senhor
não faz mudança.

Contente assim, minha alma,
do doce amor de Deus
toda ferida,
o mundo deixa em calma,
buscando a outra vida,
na qual deseja ser
toda absorvida.

Do pé do sacro monte
meus olhos levantando
ao alto cume,
vi estar aberta a fonte
do verdadeiro lume,
que as trevas do meu peito
todas consume

Correm doces licores
das grandes aberturas
do penedo.
Levantam-se os errores,
levanta-se o degredo
e tira-se a amargura
do fruto azedo!


--Em Deus, meu criador, José de Anchieta



"Há no Brasil grandíssimas matas e árvores agrestes, cedros, carvalhos, vinháticos, angelins e outras não conhecidas em Espanha, de madeiras fortíssimas para se poderem fazer delas fortíssimos galeões (...). Mas os índios naturais da terra as embarcações de que usam são canoas de um só pau, que lavram a fogo e a ferro (...)"


               --História da Custória do Brasil,
Frei Vicente do Salvado