segunda-feira, 29 de julho de 2013

REDAÇÃO: TEXTO ORAL X TEXTO ESCRITO



ESCREVER NEM SEMPRE É FÁCIL

"Você irá escrevendo, irá escrevendo, se aperfeiçoando, progredindo, progredindo aos poucos: um belo dia (se você aguentar o tranco) os outros percebem que existe um grande escritor."
Mário de Andrade
 Por que falar é mais fácil do que escrever?

Ao falar, temos uma infinidade de recursos para transmitir as nossas idéias. Podemos usar gestos com as mãos e com o corpo, expressões faciais e a própria entonação da voz.
Entretanto, ao escrevermos um texto, as únicas ferramentas que dispomos são as próprias palavras e os sinais de pontuação, o que traz uma enorme limitação, que pode se tornar ainda maior se a pessoa não tem o costume de escrever e não usa algumas técnicas.
Existem 3 tipos principais de textos:
         Narração
         Descrição
         Dissertação

1. A NARRAÇÃO, OU TEXTO NARRATIVO, é a redação na qual são contados fatos reais ou fictícios.
O texto narrativo possui dimensões espaciais e temporais, ou seja, os fatos narrados acontecem em um determinado espaço geográfico, ou seja, em algum lugar, e em uma determinada época, passada, presente ou futura.
Outra característica marcante do texto narrativo é a presença de personagens.
2. A DESCRIÇÃO, OU TEXTO DESCRITIVO, é a redação que dá informações detalhadas sobre determinado ser, objeto, lugar ou mesmo um sentimento.
      O objetivo desse texto é fazer com que o leitor consiga imaginar e recriar, na própria mente, a imagem do ser ou objeto descrito.
3.A DISSERTAÇÃO, OU TEXTO DISSERTATIVO, é a redação que tem por objetivo expressar uma opinião, um ponto de vista em relação a um determinado assunto.
         O objetivo desse texto é convencer, persuadir o leitor a concordar com sua tese. Para isso, são usados argumentos, que podem se apoiar em dados, fatos ou idéias.

CARACTERÍSTICAS DE UM BOM TEXTO
A COERÊNCIA:  
A ligação de cada uma das partes do texto com o seu todo, de forma que não haja contradições.
         Um bom texto que falha na sua coerência perde toda a sua credibilidade.
         Assim, é preciso ficar atento aos detalhes e sempre reler o texto para evitar a falta de concatenação das idéias e a inclusão de informações contraditórias, o que pode deixar a impressão de história mal contada.

COESÃO TEXTUAL:
         As técnicas ou mecanismos de coesão têm por objetivo dar consistência ao texto, interligando suas partes para que tenha uma unidade de sentido, evitando a repetição de palavras.
         Coesão léxica: é obtida através de relações de sentido entre as palavras, ou seja, do emprego de sinônimos.
         Coesão gramatical: é obtida a partir do emprego de artigos, pronomes, adjetivos, advérbios, conjunções e numerais.

Exemplos de mecanismos de coesão:
         A Perífrase ou Antonomásia é substituição de uma expressão curta e direta (nome do lugar, coisa ou pessoa) por outra mais extensa e carregada de maior ou menor simbolismo:
Ex.:
          O Brasil sediará a copa do mundo de 2014. Há muitos anos o país do futebol esperava por esse dia.

A Nominalização é o uso de um substantivo para retomar um verbo enunciado anteriormente:
Ex.:
          Armando se casou no final de 2006. O casamento, entretanto, não durou muito.

O uso de expressões sinônimas ou quase sinônimas pode ser de extrema utilidade quando se quer evitar a repetição de palavras:
Ex.:
          Os carros produzidos no Brasil não têm tantas qualidades se comparados aos automóveis importados.

A repetição vocabular deve ser evitada ao máximo. Entretanto, algumas vezes repetir uma palavra é inevitável para garantir a coesão textual, principalmente se ela representar a idéia principal do período:
Ex.:
          A fome vem se agravando nos países pobres. São vários os motivos desse problema, por isso a fome tem sido uma preocupação constante dos governantes mundiais.

O Termo Síntese é uma palavra ou expressão que retoma os termos precedentes, fazendo uma espécie de resumo.
Ex.:
          Há um vazamento de óleo no motor, os pneus estão carecas e os amortecedores não estão funcionando. Tudo isso faz com que o preço do carro seja mais baixo.

Os pronomes podem ser usados para se referir a termos ou expressões usados anteriormente.
          Cláudio gritou de dor. Ele nunca havia quebrado o pé. (Pronome pessoal reto)
          Tenho jóias muito valiosas e guardo-as em local seguro. (Pronome pessoal oblíquo)
          Este é o homem de que lhe falei. (Pronome relativo)
          Tenho aqui uma caneta e um lápis. Dou este ao menino e aquela à garota. (Pronomes demonstrativos)

Em alguns casos, podemos usar numerais para retomar dados citados anteriormente:
Ex.:
          Maria e Joana voltaram da praia. As duas estavam muito queimadas.
          O Flamengo conseguiu duas vitórias: a primeira contra o Palmeiras e a segunda contra o Grêmio.

Os chamados Advérbios Pronominais são expressões adverbiais que indicam uma localização no espaço e também podem ser usados para substituir nomes de lugares.
Ex.:
          Estou em Belo Horizonte. Aqui faz um calor infernal.
          Vou voltar para sua casa. ainda tem lugar para mim?
          Carlos viajou para Goiânia. vai ficar por mais duas semanas.
A Elipse consiste na omissão de um termo ou expressão da frase. Para que essa figura de linguagem possa ser usada sem prejuízo de sentido, é preciso que o termo oculto possa ser facilmente depreendido pelas referências do contexto. Veja:
Ex.:
         Jussara chegou cedo ao trabalho hoje. (Jussara) Já conseguiu resolver todas as pendências e ainda teve tempo para conversar com o chefe.

Uma técnica muito utilizada em jornais consiste na repetição de apenas um dos nomes de uma pessoa, depois de ter sido citado por completo anteriormente:
Ex.:
          Mário Ribeiro representa o papel de um engenheiro aposentado. Sempre que pode, Ribeiro procura Marta, sua ex-namorada.

A Metonímia é uma figura de linguagem que consiste em substituir uma palavra por outra, fundamentada em uma relação de sentido, que pode ser de causa e efeito (trabalho, por obra), de continente e conteúdo (copo, por bebida), lugar e produto (porto, por vinho do Porto), matéria e objeto (bronze, por estatueta de bronze), abstrato e concreto (bandeira, por pátria), autor e obra (um Camões, por um livro de Camões), a parte pelo todo (asa, por avião), etc. Veja um exemplo:
Ex.:
         O governo anulou a licitação para compra de laptops para alunos de escolas públicas. O Planalto não conseguiu chegar a um acordo de preço com os fabricantes.

OUTROS ASPECTOS IMPORTANTES

1.   NÃO TENTE ESCREVER DIFÍCIL.
Mantenha a simplicidade, usando palavras conhecidas e as quais você tenha domínio sobre o significado.
Fica mais fácil para você escrever e também para o leitor entender, e evita-se o risco de usar uma palavra mal colocada e alterar todo o sentido imaginado para a frase.

2.   USE FRASES CURTAS
         O uso de frases curtas facilita o domínio do texto, evitando que você se perca no meio de um período longo.
         Ao usar períodos mais curtos, amarre as frases e organize bem as idéias. Não mude de assunto de uma hora pra outra. É importante manter a linha de argumentação.

3.   SEJA CLARO
         Não deixe palavras ou idéias subentendidas.
Muitas vezes, por ter todo o contexto do assunto na cabeça, o autor se esquece de detalhes importantes os quais o leitor não tem condições de saber.
Para evitar que isso aconteça, verifique se o texto dá todas as informações e conceitos necessários ao perfeito entendimento das idéias expostas.
Faça uma análise crítica e se coloque no lugar do leitor para saber se ele tem condições e conhecimento suficiente para entender seu texto por completo.

4.   SEJA OBJETIVO
         Nem sempre quem fala mais é mais bem compreendido.
         A quantidade de palavras não é fator determinante no entendimento do conteúdo do texto. Na verdade, a repetição de idéias e o uso excessivo de explicações pode confundir o leitor.
         Dessa forma, tente se expressar usando o mínimo possível de palavras.

5.   LEIA E RELEIA
         Depois de pronto, é fundamental reler o texto. Entretanto, muitas vezes, ao reler a redação logo depois de terminar de escrever, não achamos erros por estarmos ainda muito ligados ao texto.
         Assim, se puder, descanse por um ou dois minutos antes de fazer a releitura. Dê uma volta e beba um copo de água. Esse tempo de pausa e descanso é importante para que você se desligue um pouco e adquira uma postura mais imparcial frente ao texto.
         Na releitura, lembre-se de verificar a ortografia e conferir se não há trechos confusos, com períodos muito longos ou obscuros.


sábado, 20 de julho de 2013

REDAÇÃO: Fábula, Parábola e Apólogo



Fábula, Parábola e Apólogo
Esses três tipos de texto são frequentemente confundidos devido às grandes semelhanças que possuem, mas podemos diferenciá-los também através de algumas características. Vejamos alguns conceitos:
Fábula: texto literário muito comum na literatura infantil. Fabular = criar, inventar, mentir. A linguagem utilizada é simples e tem como diferencial o uso de personagens animais com características humanas. Durante a fábula é feita uma analogia entre a realidade humana e a situação vivida pelas personagens, com o objetivo de ensinar algo ou provar alguma verdade estabelecida (lição moral).
- Utiliza personagens animais com características, personalidade e comportamento semelhantes aos dos seres humanos.
- O fato narrado é algo fantástico, não corriqueiro ou inusitado.
Parábola: deriva do grego parabole (narrativa curta). É uma narração alegórica que se utiliza de situações e pessoas para comparar a ficção com a realidade e através dessa comparação transmitir uma lição de sabedoria (a moral da história).
- A parábola transmite uma lição ética através de uma prosa metafórica, de uma linguagem simbólica.
- Diferencia-se da fábula e do Apólogo por ser protagonizada por seres humanos.
- Gênero muito comum na Bíblia: As parábolas de Jesus.
Apólogo: Gênero alegórico  que ilustra um ensinamento de vida através de situações semelhantes às reais, envolvendo pessoas, objetos ou animais, seres animados ou inanimados.
- Os apólogos têm o objetivo de atingir os conceitos humanos de forma que os modifique e reforme, levando-os a agir de maneira diferente. Os exemplos são utilizados para ajudar a modificar conceitos e comportamentos humanos, de ordem moral e social.
- Diferencia-se da fábula por se concentrar mais em situações reais, enquanto a fábula dá preferência a situações fantásticas, e também pelo fato de a fábula se utilizar de animais como personagens.
- Diferencia-se da parábola, pois esta trata de questões religiosas e lições éticas, enquanto o apólogo fala de qualquer tipo de lição de vida, mesmo que esta não seja a que é adotada pela maioria como a maneira correta de agir.
OBS:
Hegel considera-a uma forma de parábola: “Pode-se considerar o apólogo como uma parábola que não utiliza apenas, e a título de analogia, um caso particular a fim de tornar perceptível uma significação geral de tal modo que ela fica realmente contida no caso particular que, no entanto, só é narrado a título de exemplo especial.” (Estética, II, 2c, Guimarães Editores, Lisboa, 1993, p.223).

EXEMPLOS:

1.      Uma pequena fábula:
Os Viajantes e o Urso
Um dia dois viajantes deram de cara com um urso. O primeiro se salvou escalando uma árvore, mas o outro, sabendo que não ia conseguir vencer sozinho o urso, se jogou no chão e fingiu de morto. O urso se aproximou dele e começou a cheirar sua orelha, mas, convencido de que estava morto, foi embora. O amigo começou a descer da árvore e perguntou:
_O que o urso estava cochichando em seu ouvido?
_Ora, ele só me disse para pensar duas vezes antes de sair por aí viajando com gente que abandona os amigos na hora do perigo.

Moral da história: A desgraça põe à prova a sinceridade e a amizade.
                                                                                                (Esopo)


2.      Uma Pequena Parábola:

O exemplo do tigre

Uma história sobre a comodidade e o conformismo

Um homem vinha caminhando pela floresta, quando viu uma raposa que perdera as pernas. Perguntou-se como ela faria para sobreviver. Viu, então, um tigre aproximando-se com um animal abatido na boca. O tigre saciou a própria fome e deixou o resto da presa para a raposa.
No dia seguinte, o tigre alimentou a raposa novamente. O homem maravilhou-se com a grandiosidade de Deus, que usava o tigre para ajudar outro animal. Disse a si mesmo: “Também eu irei me recolher em um canto, com plena confiança em Deus. E ele há de prover tudo de que eu precisar.”
Assim fez. Mas, durante muitos dias, nada aconteceu. Estava já quase às portas da morte, quando ouviu uma voz:
- Ó, tu que estás no caminho do erro, abre os olhos para a verdade! Segue o exemplo do tigre e pára de imitar a raposa aleijada.

Parábola extraída do livro AS MAIS BELAS PARÁBOLAS DE TODOS OS TEMPOS - Volume 2, Alexandre Rangel, Editora Leitura.


3.      Um Pequeno Apólogo:
Os Fósforos

Uma caixa de fósforos recém comprada foi usada pela primeira vez. Quando foi aberta, a luz cobriu todos os palitos que dentro dela estavam quietos e encostados, uns nos outros. Um palito saiu e não mais retornou e a caixa foi fechada novamente. Foi quando ela ouviu o seguinte diálogo:
- Você viu isso, ele não teve nem tempo de se despedir.
- É assim mesmo, nós vamos, queimamos e não mais retornamos.
- É uma vida curta demais!
- O que você prefere ? Ficar aqui dentro da caixa, no escuro ?
- Prefiro! Do que queimar tão rápido ? Prefiro. Do que ter minha cabeça riscada? Prefiro! Imagine a dor! Deus que me livre!
O diálogo se encerrou, parecia que os outros fósforos não se sentiram encorajados em continuar a conversa com aquele palito, talvez louco, talvez revolucionário.
A caixa porém observou, cada vez que ela era aberta e a menor porção de luz adentrava, ele se espremia bem no fundo da caixa, deixando todos os outros palitos em cima. Assim ele foi, vendo palito por palito sendo riscado até que só sobravam ele e mais outros dois palitos. Ele percebeu que não havia mais como se esconder, mesmo que se espremesse no canto da caixa. Passou o resto da vida aterrorizado, esperando a luz entrar e torcendo que tivesse sorte, de não ser escolhido jamais.
Um dia a caixa se abriu, ele tentou se encolher o melhor que podia, mas uma mão simplesmente virou a caixa deixando cair ele e os outros dois palitos na palma de uma mão. A caixa foi jogada de lado no chão, meio aberta, e da mão ele ficou olhando, ansioso, o seu antigo refúgio. Havia um certo alívio, sem a caixa, ele não poderia ser riscado. Quando tal alívio surgiu na mente ele viu um dos palitos ser partido em três. E viu o palito do lado sofrer o mesmo. Até que chegou a vez dele e ele foi partido em três.
E então três homens sentaram em uma mesa de um bar e colocando as mãos para trás começaram a jogar porrinha. Aos poucos os pedaços de palitos foram sendo jogados no chão, até que o pedaço com a cabeça do pobre palito, caiu perto da caixa.
Quebrado, jogado de lado, seu estado era lamentável. Tanto quanto dos outros dois palitos e mais um diálogo ouviu a caixa: 
- E agora ? Satisfeito ?
- Fugiu, fugiu de ser riscado, de ser queimado, para agora estar aí, jogado e quebrado.
- Que triste fim! Quisera eu ter sido queimado, ter sido o primeiro, ter vivido bem menos mas ao menos ter sido queimado.
- O que você tem a dizer agora, hein ?
 A caixa viu  que o palito não mais respondia, até que os dois também se calaram. Era o fim de todos eles, mas ela ainda foi capaz de dizer:
- Ao menos não fui tola, não evitei viver com medo do fim, pois de que adianta? O fim chega para todos; é melhor recebê-lo tento vivido o melhor que podemos do que não ter vivido de forma alguma, tremendo de medo.
João Camilo Campos de Oliveira Torres